sabato 15 ottobre 2011

Os animais católicos

O leitor subitamente poderá pensar numa provocação grosseira ou nos animais que estavam no estábulo onde Jesus nasceu. Não se trata de nenhuma das alternativas. Com o título eu chamo a atenção para palavras que adquirindo um segundo significado, perdem o seu sentido inicial, totalmente diverso do novo.

No meu trabalho de tradutor aqui em Roma, eu descobri uma referência em grego, que data de um século antes de Cristo, com uma lista dos “animais católicos” (katholikà zôa), que em grego quer dizer: “animais universais”, isto é, que existem em todos os países do mundo: o boi, a ovelha, o cachorro, o gato, o rato, a cobra... É bem conhecida dos estudantes de grego antigo, a peça: Batracomiomaquia = “luta das rãs e dos ratos”, cuja autoria até hoje é discutida. Muitos dizem ser de Homero. A dúvida está no fato de uma peça cômica, que alguns analistas acham incompatível com a seriedade de Homero.

Existem dezenas e dezenas de palavras que surgiram com um sentido mas adquiriram no curso do tempo, um segundo significado que obnubilou por completo o seu primeiro sentido. Em meu livro: Acordo Ortográfico – Vocabulário das Palavras Modificadas – eu apresento uma centena deles. Esse é o caso da palavra “católico”, do grego, katholikós = universal. Esse termo passou para o latim “catholicus”, com o mesmo significado, embora o latim já tivesse o termo “universalis” = universal.

Essa palavra começou a mudar de significado a partir de 1054, quando foi efetivada a ruptura definitiva da Igreja cristã – por intransigência de ambos os lados – o grupo do Oriente, sob a orientação do Patriarca de Constantinopla, declarou-se “ortodoxo” (orthdóxos), isto é, de opinião correta; já o grupo do Ocidente sob a guia do Papa de Roma, se declarou “católico” (catholikós), ou seja universal, ou que está em todo o mundo. Com o tempo, o termo católico ficou irremediavelmente ligado à Igreja cristã que segue Roma e na prática passou a ser usado sempre em referência à religião.

Esse episódio é um dos fatos mais tristes da história da Igreja cristã. Ao mesmo tempo ele mostra o quanto a questão cultural pesou e pesa em muitas decisões da Igreja. Por volta do ano 155 de nossa era São Policarpo de Esmirna foi a Roma, “de cretado” como diz o nosso povo simples, dialogar com o Bispo de Roma Santo Aniceto, (na época ainda não havia essa designação Papa), sobre a unificação da data da Páscoa, que era celebrada em datas diferentes no Oriente e no Ocidente. Eles conversaram, dialogaram, rezaram juntos, São Policarpo celebrou para o Santo Aniceto. Mas os dois santos junto com seus assessores não chegaram a um entendimento sobre isso, o que culminou com a ruptura da Igreja Cristã.

O que houve realmente, não se pode afirmar, já que os documentos sobre o assunto são limitados, mas se pode concluir que nenhuma das partes cedeu o suficiente para haver um acordo e as tradições e diferenças culturais entre o Oriente e o Ocidente pesaram ao ponto de impedirem um acordo entre ambas as partes.

Para ilustrar essa informação eis algumas palavras e seu único significado original: bárbaro = estrangeiro; demagogo = condutor do povo; escândalo = obstáculo material; escrúpulo = pedrinha; formidável = horroroso; hecatombe = sacrifício de 100 bois; imbecil = fraco, indefeso; lançar = jogar a lança; lápis = pedra; maleável = martelável; ovação = sacrificar uma ovelha; perfume = pela fumaça; pessoa = máscara; precário = obtido em preces; reprovar = tentar de novo; romaria = ir a Roma...

Les animaux catholiques

En lisant ce titre, peut-être le lecteur peut penser qu’il s’agit d’une provocation, d’une plaisanterie, ou bien des animaux qui étaient à l’étable où Jésus est né, à Bethléem. Mais il n’en est rien. Je veux attirer ton attention sur des mots qui ayant éte nés avec un sens, après quelque temps, ils ont acquis un sens tout à fait different.
Dans mon travail comme traducteur à Rome, il est tombé sous mes yeux un petit texte en grec: Κατολικὰ ζῷα, c’est-à-dire, animaux catholiques. Il s’agissait tout simplement d’une énumération des animaux connus en tous les pays du monde comme le boeuf, le cheval, l’âne, le chien, le chat, le coq, le mouton, la chèvre, la mouche, etc.
Il y a beaucoup de mots qui ont changé de sens au cours du temps, par hasard ou pour des raisons historiques. Parmi ces mots nous trouvons justement catholique. Il vient du grec κατολικός qui veut dire universel. Ce mot est passé au latin “catholicus”, avec le même sens, “partout au monde”, malgré le fait que le latin avait déjà le mot “universalis” pour dire ça.
Un fait historique a fait oublier le sens originel et unique du mot catholique. Il s’agit du schisme de l’Église chrétienne en 1054. À ce moment là, le groupe de l’Orient, ayant comme siège Constantinople, s’est declaré ὀρθόδοξος, c’est-à-dire, qui est en accord avec le code, les normes. À son tour, le groupe de l’Occident, dont le siège est à Rome, s’est déclaré κατολικός, ou universel, en reference à l’appel de Jésus Christe, de faire l’anonce de la Bonne Nouvelle à tout le monde.
Alors, au fur et à mesure que les années sont passés, ce fait a forgé un nouveau sens au mot latin “catholicus”, soit catholique. Son premier sens, universel est perdu ou a été oublié et il a acquis un nouveau sens pour désigner: “le chrétien qui obéit le Pape de Rome”. Sûrement peu de personnes savent aujourd’hui que le mot catholique auparavant signifiait seulement universel, ou se référait à quelque chose qui se trouvait partout au monde.
Pour montrer que celà n’est pas un fait rare, voici l’acception initiale de quelques autres mots, qu’aujourd’hui ont toute une autre signification:
barbare (gr. βάρβαρος) = étranger; mais non suavage, primitive, inhumain…
démagogue (gr. δημαγωγός) = guide du peuple; mais non exploiter du people…
formidable (gr. de φοβερός) = épouvantable, monstrueux; mais non magnifique…
grotesque (de l’italien, grottesco) = relative à la grotte; mais non laid, ridicule…
hécatombe (gr. ἑκατόμβη) = le sacrifice de 100 boeufs; mais non catastrophe…
imbecile (lat. imbecilis) = faible, sans appui; mais non idiot, grotesque, ridicule…
malléable (lat. de malleatus) = qui peut recevoir coups de marteau; mais non qui cède.
ovation (lat. ovationis) = le sacrifice d’une brebis; mais non acclamation, applaudissements.
païen (lat. de pagus) = celui qui habite au village; mais non celui qui n’est pas baptisé.
précaire (lat. precarius) = obtenu par prière; mais non fragile, instable, éphémère…
precoce (lat. de prae+coquere) avant d’être cuit; mais non avancé, hâtif, prématuré...
réprouver (lat. re+provare) = faire une deuxième preuve; mais non rejeter, condemner.
rival (lat. rivalis) = celui qui est dans l’autre rive du fleuve; mais non adversaire, ennemi.
sagace (lat. sagax, sagacis) = qui a l’odorat subtil; mais non intelligent, perspicace…
scandale (lat. scandalum) = obstacle materiel; mais non un comportement troublant...
scrupule (lat. scrupulus) = petite pierre pontue; mais non embarras, doute, souci...
Comme tu peux bien comprendre, l’étude de l’étymologie et de l’histoire des mots n’est pas une étude inutile, mais justement au contraire, il est fort utile, pour la parfaite compréhension des mots et en plus des textes que nous lisons.
Roma, le 12 octobre 2011
Frei Hermínio Bezerra
Traducteur du portugais.