lunedì 21 marzo 2011

Os caminhos da palavra

(Publicado no Diário do Nordeste, 21 de março de 2011, IN: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=950658)

A coluna Palavras, Lógica e Sentido comemora hoje seis anos. Iniciada em 2005, as publicações fizeram do autor Frei Hermínio Bezerra um verdadeiro consultor de etimologia no País

O estudo da etimologia não é para muitos. Exige paciência, pesquisa árdua e verdadeiro apreço pelos dicionários. A etimologia é o setor gramatical dedicado ao estudo da origem das palavras e dos elementos que as constituem. Está diretamente relacionado aos fatos históricos, à cultura das civilizações e ao seu imaginário.

Em geral, palavras derivam de outras, de outras línguas, modificadas pelas sociedades. Os etimologistas têm por função, entre outros, reconstituir a história das palavras: quando chegaram a uma língua, quais suas fontes e como seus formas anteriores foram modificadas.

Atuando como verdadeiros investigadores, esses estudiosos se ocupam também em resgatar informações sobre antigas línguas, muitas vezes de escrita ou tradução difícil de ser reconhecida. Rastreando os radicais das palavras, os pesquisadores percorrem suas veredas em busca de um caminho inverso, que identifique seus verbetes ancestrais. Logicamente, a palavra "etimologia" também possui a sua própria etimologia: vem do grego "étymos", que significa verdadeiro, e "lógos", ciência, tratado.

Hoje, há exatos seis anos, o filósofo, teólogo e tradutor Frei Hermínio Bezerra estreava nas páginas do Caderno 3 sua coluna Palavras, Lógica e Sentido, dedicada à arte da etimologia. Amante dos vocábulos, o religioso iniciou em 21 de março de 2005 sua viagem por essa ciência, destrinchando a língua portuguesa, apresentando suas origens, significados e traduções para outros idiomas.

Com uma média de 10 a 13 verbetes a cada edição, o autor, tradutor oficial de português da Cúria Geral dos Capuchinhos, em Roma, pode etimologizar mais de três mil palavras.

"Sou muito interessado em dicionários, dos mais variados assuntos. Leio-os como quem lê um romance. Tenho cerca de 150 deles, sobre música, numismática, nazismo. Tenho até um dicionário de palavras que não existem e um dicionário de dicionários", revela Frei Hermínio. A partir de fevereiro de 2007, o capuchinho passou a escreve a coluna em Roma, onde reside.

O processo para a produção das colunas é contínuo. Devido ao seu ofício de tradutor, Frei Hermínio está sempre atento a novidades e curiosidades.

Retorno dos leitores

"Em geral sigo o alfabeto, mas já escrevi muitas colunas sobre temas: clima, ecologia, justiça, Igreja, direito, nomes de origem tupi e o nascimento de palavras, como a que temos aí no Brasil: ´sambódromo´, do bantu ´samba´ (umbigada) e do grego ´dromo´ (lugar de correr), tal como autódromo, hipódromo", comenta. Cada coluna leva de quatro a oito horas para ser escrita e pelo menos dez dicionários são consultados no processo. "Por causa da coluna, recebo dezenas de e-mails por semana", comenta o capuchinho. Informações, elogios e críticas são enviados pelos leitores. Com os anos de publicação, Frei Hermínio afirma que já se tornou um verdadeiro consultor de palavras em todo o Brasil.

"São numerosas as consultas de professores, advogados e leitores assíduos. Perguntam-me sempre sobre a origem de palavras, os diversos sentidos e se determinado termo cabe em um certo texto e/ou contexto".

A consultoria do religioso foi de extrema importância em dois episódios bem diversos, destacados pelo colunista. Em março de 2007, na exortação pós-sidonal lançada pelo Papa, intitulada "Encíclica Sacramentum Caritatis" a palavra "plaga", que significa chaga ou ferida, foi traduzida como praga. Frei Hermínio inseriu-se no debate nacional dedicando sua coluna do dia 2 de abril à correção do termo.

Em um segundo momento, a consultoria do autor contribuiu para a absolvição de um leitor paulista, de Ribeirão Preto, que sofrera um processo judicial. O leitor fora indiciado por "crime de silabação" ao dizer a uma deputada que este termo se separava da seguinte forma: de-puta-da. Sua intenção era apenas ressaltar a pureza da parlamentar, já que o termo "puta" significa, na verdade, "pura", em latim.

Diante do mau entendido (sic), o leitor paulista recorreu a Frei Hermínio, que enviou a ele um artigo em sua defesa, explicando que, de fato, "o adjetivo é formado a partir do verbo: puto, putas, putavi, putatum, putare, que significa limpar, purificar", como teoriza o próprio religioso.

Segundo ele, na antiga Roma, os candidatos a "deputado" se apresentavam ao eleitor vestindo uma toga branca, para mostrar a pureza com que se propunham a esse cargo público. A palavra candidato, inclusive, provém de cândido. O artigo foi aceito pelo juiz, que permitiu a absolvição do réu baseado no parecer do especialista.

Grato pelos seis anos de publicações periódicas, Frei Hermínio garante que não só instrui seus leitores, mas aprende com eles. "O que mais aprendo é que sei pouco. Com toda a pesquisa que faço e o cuidado que tenho ao produzir cada coluna, de vez em quando, um leitor mais atento ou mais informado do que eu, em algum ponto, me corrige. Agradeço prontamente ao e-mail e procuro responder a todos com humildade, dizendo que não sei tudo", ressalta.

Processo de pesquisa

3000 palavras já foram etimologizadas durante os seis anos de publicação da coluna. Para produzí-las, o Frei dedica entre quatro e oito horas, consultando cerca de dez dicionários diferentes.

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

lunedì 14 marzo 2011

A lambança do duplo acento

O acento duplo é uma das dificuldades do Acordo Ortográfico da língua portuguesa, em fase de divulgação para o conhecimento, desde 01/01/2009 no Brasil e de 01/01/2010 em Portugal. Após essa fase que vai até dezembro de 2012 está prevista a efeteivação e a consequente entrada em vigor desse Acordo, em todos os países de língua portuguesa.

São dois os casos: as palavras paroxítonas terminadas por ditongo, também conhecidas como "falsos proparoxítonos", com pronúncia fechada no Brasil e aberta em Portugal, como: Antônio/António, bafômetro/bafómetro... e as palavras de origem francesa, sem razão, pois têm pronúncia fechada em Portugal e no Brasil.

Em francês o acento agudo tem o som do circunflexo, escreve-se Pelé, mas pronuncia-se Pelê. Assim têm a mesma pronúncia, mas têm duplo acento (opcional naturalmente), as palavras: balancê/balancé; baumê/baumé; bebê/bebé; bidê/bidé; bilboquê/bilboqué; cachê/caché; cachenê/cachené; carnê/carné; comitê/comité; consomê/consomé; crochê/croché; cuchê/cuché; demodê/demodé; fricassê/fricassé; giroflê/giroflé; glacê/glacé; guichê/guiché; guilochê/guiloché; habituê/habitué; macramê/macramé; matinê/matiné; nenê/nené; negligê/negligé; patê/paté; pavê/pavé; plaquê/plaqué; ponjê/ponjé; psichê/psiché e purê/puré.

martedì 1 marzo 2011

Eleição, Ensino e Educação

Escolha, no sentido denotativo, é o ato ou efeito de se escolher ou de se manifestar a preferência por alguém ou por algo que se encontra em meio a tantas outras apresentadas. É a forma que se tem de optar entre duas situações e, portanto, mostrar aquela que é de sua predileção. É no ato de eleger que se exerce a verdadeira capacidade que se tem de escolher bem e com discernimento. No sentido conotativo, a escolha pode ser apenas aquela sobra, aquele resto desprezível dos produtos agrícolas, por exemplo, como no caso de cereais. O refugo ou rebotalho.

Nas provas com opções de múltipla escolha, pode prestar atenção, entre as cinco respostas possíveis, sempre sobram duas possibilidades. Mas apenas uma é a resposta correta. Às vezes, como nas eleições de segundo turno, nós acabamos optando pela escolha e jogamos fora a possibilidade de acertar e escolher a opção correta.
Ensino e educação. Outro dia, um dos meus alunos, ou aluna de Ciências Humana, na Fanor, perguntou qual a diferença entre ensino e educação.

Ensino, ou transferência de conhecimento e de informação específica de modo geral, é exercido, principalmente, por aqueles que se dedicam ao magistério. Ensino é sinônimo de educação, mas se diferencia, à medida que se refere mais à instrução didática escolar; seja no ensino infantil, fundamental, secundário ou universitário. Ensinar enseja a transmissão de experiência adquirida, seja por vivência, por lição, por ensinamento ou pelo exemplo. Exemplo é tudo aquilo que pode ou deve ser imitado. É o modelo que deve vir dos mais velhos. É o devir.

Educação envolve a aplicação de processos e métodos próprios que asseguram a formação e o desenvolvimento físico, moral e intelectual do ser humano. Pode ser feita pela instrução pedagógica, didática e, principalmente, pelo exemplo. De nada adianta dizer para o seu filho não mentir, se você pede a ele para dizer que não está quando alguém lhe telefona. Ou dizer que não pode jogar papel na rua, quando você não respeita esse preceito. O exemplo, mais que as palavras, é que arrasta e induz as pessoas, especialmente as crianças, a fazer ou deixar de fazer algo.

Educação, na realidade, vai além do ensino, pois se refere à observação e ao conhecimento dos costumes da vida social, às normas de civilidade, delicadeza, polidez e cortesia. Uma pessoa pode ser instruída, mas não necessariamente educada. Já muita gente com pouca instrução pode ser, com certeza, muito bem educada. O efeito produzido por uma dessas condições, nem sempre traz consequências positivas para a outra.

Por que ler os Clássicos?

O cubano Ítalo Calvino, ele próprio um autor de clássicos, como O Visconde Cortado ao Meio, O Barão Trepador, O Cavaleiro Inexistente, Palomar, Sob o Sol Jaguar, Seis Propostas para o Próximo Milênio, As Cidades Invisíveis, Cosmicômicas e Marcovaldo, brinda-nos com o livro Por que ler os Clássicos? Os clássicos, segundo Calvino, são os livros de que se costuma ouvir dizer: "estou a reler... e que sempre constituem uma riqueza para quem os leu e amou; que exercem uma influência especial e inesquecível e que nunca acabam de dizer o que têm a dizer".

As odisseias que contém a Odisseia, obra atribuída a Homero, e que conta as aventuras de Ulisses. A guerra de Troia. O cerco. O cavalo. Desse clássico, o paraibano Zé Ramalho e seu parceiro, Otacílio Batista, escreveram um clássico da MPB: Mulher Nova, Bonita e Carinhosa, cujos primeiros versos dizem o seguinte:

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história que um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor...

Xenofonte é apresentado por Calvino não apenas como o autor que descreve um velho documentário de guerra, mas que, além disso, traz com plenitude um variado prazer de leitura. Calvino fala também de Ovídio e a contiguidade universal; de Plínio, o Antigo, e tantos outros autores da literatura clássica universal.

Como entender que algo é kafkiano sem jamais ter lido O Processo, de Kafka? Ou saber o que significa o método cartesiano, desconhecendo O Discurso do Método, de Descartes? Ou compreender a Via Láctea, sem conhecer As Metamorfoses, de Ovídio? É preciso ler os clássicos, mas sem se esquecer de se atualizar com a sapiente leitura das atualidades. A tudo isso, segundo Calvino, "a única razão que se pode aduzir é que ler os clássicos é melhor que não ler os clássicos".

Com os clássicos é muito mais fácil entender que eleição, ensino e educação têm muito mais a ver um com o outro que uma simples letra inicial dos nomes.

Zacharias Bezerra de Oliveira