martedì 23 febbraio 2010

O hífen e os males do Acordo

Um dos temas mais polêmicos e que ocupa o maior número de bases do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é o hífen. O Novo Acordo fez uma bela salada ao elaborar as regras para o uso do hífen. Apresentarei aqui no Blog alguns dos pontos difíceis com exemplificações.

Hoje dou algumas informações sobre “mal” e “mau”, que são palavras usadas como primeiro elemento de muitas expressões e em geral exigem hífen.

Mal vem do latim: malus, mala, malum = mal, no sentido de calamidade; castigo; desgraça; doença; dor; prejuízo; enfim, o que prejudica. Neste caso é substantivo. Ex. A multa para quem atravessa o sinal vermelho é o mal menor. “Mal” é o antônimo de “bem”.

Um segundo significado da mesma palavra: Mal advérbio de modo ou de qualidade, neste caso o termo português origina-se também do latim, male = mal, no sentido de erradamente, escasso, de modo irregular... Ex. de advérbio: “As rígidas verdades mal sabidas”. (Gonçalves Dias).

Um terceiro sentido é Mal como conjunção temporal. Neste caso é apenas uma questão do sentido em que se emprega a palavra. Mal é conjunção quando na frase ele significa ou pode ser substituído por: apenas, logo que, assim que; ex. Mal recebeu a carta, ele partiu; mal a Ofélia abria a boca, todos começavam a rir.

Quando o termo “mal” aparece como primeiro elemento de uma expressão (seja ou não considerado prefixo), em geral exige o hífen. Exemplos no quadro abaixo:

mal-acabado mal-agradecido mal-amado mal-arranjado
mal-acondicionado mal-afamado mal-americano mal-arrumado
mal-aconselhado mal-afeiçoado mal-andança mal-assado (a)
mal-adaptado mal-afortunado mal-andante mal-assimilado
mal-afamado mal-agourado mal-apanhado mal-assimilação
mal-afeiçoado mal-agradecido mal-apessoado mal-assombrado (a)
mal-afortunado mal-ajambrado mal-apresentado mal-aventurado
mal-agourado mal-ajeitado mal-armado mal-avindo
mal-avisado mal-canadense mal-céltico mal-curado (a)
mal-educado mal-empregado mal-encarado mal-enganado
mal-engendrado mal-engraçado mal-ensinado mal-entendido
mal-entrada mal-escossês mal-estar mal-estreado
mal-francês mal-gálico mal-germânico mal-humorado
mal-ilírico mal-indiano mal-intencionado mal-irlandês
mal-italiano mal-mal mal-ordenado mal-ouvido
mal-triste má-assimilação má-língua más-línguas (pl.)

Atenção: Má vontade não tem hífen. Numerosos termos que aparentemente seriam separados formam uma só palavra. Ex.: malcriado; malcasado; malcontente; malcozido; malcriação; maldisposto; malditoso; maldormido; maldotado; malfeliz; malgostoso; malgovernado; maljeitoso; malquerença, etc. Na dúvida é preciso consultar o VOLP/2009ou o Antônio Houaïs, 2009, que já trazem o vocabulário conforme o Acordo Ortográfico.

Mau vem do latim, malum, mali = mal, no sentido de o que causa prejuízo, incômodo ou doença; o que não é de boa qualidade; que exprime malvadez; sem talento ou sem arte; irregular; imperfeito; de má qualidade; difícil; perigoso; nocivo; prejudicial; funesto; perverso... ex: o assassino era de maus instintos; o impostor um mau-caráter... Mau pode ser também termo interjetivo, em geral numa locução interjetiva. “Mau” é o antônimo de “bom”.

Curiosidade: Existe um pássaro chamado maú, que também é conhecido como urutaí ou urutuaí.

Eis alguns exemplos de quando “mau” exige hífen


mau-caráter mau-caratismo mau-mau* (Quênia) mau-olhado
maus-tratos (pl.) mau-vidente má-vidente (fem.) más-videntes (f. pl.)


São vários os termos que deixam dúvida e, por isso, é bom consultar o VOLP atualizado. Exemplo: mau humor; mau gosto; mau hálito; maus modos; mau pintor etc.

Atenção para a expressão: mau-mau. O mau-mau, (que não consta no VOLP/2009), foi um ativo movimento guerrilheiro nacionalista que surgiu no Quênia, a partir de 1948, entre a população kikuyu, que lutou pela independência do Quênia, então colônia do Reino Unido. Seu grande líder foi Jomo Keniatta *1889 †1978, que formou-se em Londres em 1937 e cuja tese, “Diante do Monte Kênya”, recebeu grandes elogios do antropólogo Stanislaw Malinowski. O Quênia ficou independente em 1963 e Jomo Kenyatta foi presidente até morrer, em 1978. Sucedeu-lhe seu vice-presidente Daniel Arap Moi.

Não há razão para se escrever “quicuiu”, o nome do povo de onde veio Jomo Kenyatta, assim como a grafia desse país, seguindo o Acordo Ortográfico deveria ser: Kênya.

Zacharias Bezerra de Oliveira

domenica 21 febbraio 2010

Monórquido

Do grego, mónorchis, palavra formada de: monos = um, único, + órchis = testículo. Em zoologia, diz-se do animal que tem um só testículo, que no nosso sertão chamamos roncolho; em botânica diz-se da planta que tem um só tubérculo. A monorquidia atinge também o homem, seja por um defeito congênito, seja pela perca de um testículo em acidente.
Existem três monórquios – as duas formas são aceitas – chefes de estado, célebres na história dos séculos XIX e XX. Dois deles causaram pavor a toda a Europa. Um foi Napoleão Bonaparte, segundo alguns cronistas sem indicações muito exatas.
O outro é o Führer, Adolf Hitler *1898†1945, que perdeu um testículo na 2ª. Guerra Mundial na Batalha de Somme, em julho de 1916. Hitler adorava a companhia de mulheres e a história cita várias: Stefania, para quem ele escreveu versos que nunca mandou; Jenny Haug e Erna Hanfstaengl, de Viena, ambas após a 1ª. Guerra Mundial; Winifred Wagner, descendente do compósito Richard Wagner; Angélika Raubal, na intimidade Geli, foi o grande amor de Hitler, mas ele era ciumento, possessivo, com inclinações sexuais masoquistas, Geli não suportou e suicidou-se em 18/09/1931. Hitler encomendou um quadro dela ao pintor A. Ziegler, conservou o quarto intacto e todo ano ia pessoalmente ao cemitério levar flores no dia de seu aniversário. Finalmente Ewa Braun, que foi a sua amante semissecreta (na época, pouquíssimos sabiam), nos últimos 12 anos de sua vida, mas ela nunca aparecia junto com ele e quem geria a casa deles era o Martin Borman. Historiadores dizem que ela tentou o suicídio em 1932 e em 1935. Eles se casaram na véspera do suicídio. Por que ele se casou depois que decidiu morrer? Alguns supõem que ele teria prometido a Ewa Braun que um dia eles se casariam, ela esperou 12 anos e ele, “in extremis”, cumpriu a promessa. É difícil explicar porque Hitler não se casou. Uma suposição é que, sabendo-se admirado por numerosas mulheres e numerosos compatriotas, ele sempre preferiu glamorizar os alemães, mantendo-se solteiro, e por isso a amante era secreta. Hitler considerava a mulher com uma só tarefa: dar filhos (soldados) ao nazismo. Durante o nazismo só uma mulher, inteligente e de forte personalidade, conseguiu discutir política como Hitler, foi Magda Goebbels, esposa do baixinho Joseph Goebbels que era o Reichpropagandaleitex (Ministro da Propaganda). Ela e Goebbels tinham seis filhos e os homens todos tinham nomes começados com “H”, o que não era uma homenagem a Goebbels. Pelo menos uma autor, diz que o pai de sua penúltima filha, Magdalena, na verdade era o Hitler, mas disso não há prova conhecida. Mas Magda Goebbels passou à história sobretudo porque em 01/05/1945, um dia após a morte do Hitler, ela e o marido, envenenaram os seis filhos e se suicidaram. Deixaram a singela explicação: “Nenhum de nós, seria capaz de viver numa Alemanha sem Hitler!”

O terceiro chefe de estado monórquio foi o Gal. Francisco Franco da Espanha, que ao receber um tiro no baixo ventre na batalha de El Biutz, perto de Ceuta, em junho de 1916, apenas um mês antes da batalha em que Hitler recebeu também um tiro no baixo ventre. Esse acidente em que perdeu um testículo foi um dos grandes segredo da vida de Franco, só revelado em 1997, por José Luis Vilallonga, no livro “El Sable del Caudillo”. O autor põe em dúvida se ele era o pai de sua filha Carmen Franco Pólo. Com isso ele não quer dizer que ele seria estéril. Um monórquido não é necessariamente estéril. A suposição baseada em provas indiretas, é de que Carmen era adotada e não filha do casal. No dia 22 de maio de 2010, José Maria Zavala lançará na Espanha o livro: “Franco, el Republicano. La Vida Secreta de Ramon Franco”. Ramon Franco, irmão do Caudillo Franco, era um notável aviador. A suposição é a de que é ele o verdadeiro pai da filha adotiva de Franco. Ramon Franco teve a filha com uma mulher com quem morava e já com alguns anos ela foi adotada pelo irmão general Francisco Franco. Cognatos: orquídea (a planta), orquiectomia ou orquiotomia, orquidiografia e orquidografia, orquioneuralgia, orquiocele, orquioplexia, orquite, orquioesclerose, orquítico... todas formadas a partir do termo grego, “órchis”. O leitor poderá pesquisar mais informações sobre as que interessar. Os professores têm sugestões para trabalhos.

A arte de educar

Aristóteles (384-322 a. C.) já dizia que a educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces. O cotidiano na sala de aula mostra-nos que a prática docente é um permanente desafio epistemológico, social, estrutural e até ecológico no que constitui a relação professor-aluno. Na escola moderna o aluno é considerado e tratado como um “cliente” muito especial que paga caro por um serviço que ele espera ter mesmo sem apresentar a contrapartida que é estudar. Estes muitas vezes não possuem noções de limites, direitos e deveres, nem de ecologia humana.
A pedagogia de Paulo Freire (1983) requer hoje um educador ou educadora “percebedor/a” e “problematizador/a” da realidade. É preciso conhecer essa realidade e respeitar a individualidade de cada aluno, de cada aluna. São necessários envolvimento, inclusive emocional, e um código de convivência, ajuda e respeito mútuos. O ensino não é uma via de mão única. Como diz Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos, há saberes diferentes”. Todos nós temos algo a aprender e a ensinar. Cabe aos mestres mostrar isso, com a ajuda da música, do teatro, da arte e da ação-razão para, pouco a pouco, ir obtendo o envolvimento da classe e transformando-a pelo saber e aprendizado. Ensinar é uma arte de difícil compreensão.
A partir de hoje vamos falar neste espaço sobre educação, língua portuguesa e as novas normas ortográficas, que já estão em vigor nos países lusófonos. O Acordo Ortográfico já está em vigor e, embora ainda em fase de transição, já começa a ser exigido em provas de concursos, vestibulares, Enem e nos livros didáticos. Portanto é sobre o Acordo que postaremos o nosso próximo comentário. Até lá.

Zacharias Bezerra de Oliveira

martedì 16 febbraio 2010

Fonema e Grafema

A Talleyrand (*1754 +1838), político, filósofo, clérigo e diplomata francês, se atribui a frase: “La parole a été donnée à l’homme, pour déguiser sa pensée!” (A palavra foi dada ao homem para dissimular seu pensamento). O conselho não é recomendável, mas eu uso a frase para mostrar o que acontece entre a fonética e a grafia nas línguas. O que se escreve (grafema) e o que se pronuncia (fonema), constitui uma bela coleção de disfarces.
Em português, das cinco vogais apenas o “a” e o “i” têm som único. Escrevemos “disse” e pronunciamos “dissi”, escrevemos “botou” ou “goela” e pronunciamos “butou” ou “guela”, sovela e pronunciamos “suvela”, etc.
Em italiano e em espanhol, todas as vogais são pronunciadas distintamente, embora o italiano tenha o “gl” com som de “lh” e o espanhol tenha o “j” com som de “r”, mas isso para nós, não para eles.
Nas línguas neolatinas, não há diferença de pronúncia entre o “i” e o “y”. Em português se pronuncia do mesmo jeito, lýrio ou lírio; em francês têm o mesmo som, “signe” ou “cysne”, etc.
Em francês são muitos as diferenças de pronúncia em relação ao português: oi = uá, se escreve foi, loi, roi e se pronuncia: fuá, luá, ruá; se escreve “in” e se pronuncia en =, se escreve “en” e se pronuncia “an”; se escreve “é” e se pronuncia “ê”; por isso, em francês, Pelé se pronuncia Pelê.
O alemão tem grande aproximação entre a fonética e a grafia, praticamente só tem duas alterações: “eu” = “oi” como em Freud, Feuerbach... e “ei” = “ai” como em “frei” = livre. Além do trema, que tem uma leve influência na pronúncia.
O inglês é a língua campeã de disfarces fonográficos. As vogais e grupos vocálicos variam sei lei, de uma palavra para outra. O “a”, por exemplo tem som de “ei”; de “e”; de “ö”; de “û” e às vezes tem até o som de “a” mesmo.
Dito isso, conclui-se: é inócua a discussão em torno do Acordo Ortográfico, sobre como escrever e pronunciar o português. É inútil legislar sobre pronúncia dada a impossibilidade de se fazer um controle geral da pronúncia.
O estudioso alemão Heinrich Cornelius Agripa (*1486 +1534), em “De incertitudine et vanitate scientiarum” (1527), diz: “A única razão para as regras da gramática é a decisão dos que as fizeram.” E justifica a sua afirmação dizendo: “O melhor gramático latino, não seria capaz de explicar logicamente, porque o genitivo de Júpiter e Jovis e não Jupiteris”.
A propósito por que o nome do nosso grande jogador se escreve Kaká e não Cacá, se no alfabeto português nem existia a letra “k”? É porque alguém decidiu assim, e não há o que se discutir.
Frei Hermínio Bezerra de Oliveira
Especial para o “Diário do Nordeste”.

lunedì 8 febbraio 2010

Kamikases, Confessores e Mártires

Essas três palavras, uma japonesa de 1280, outra latina do ano 200 e a última grega, anterior a Cristo, aqui aportuguesadas, têm sentidos diferentes, mas na essência etimológicas significam a mesma coisa.

Kamikases – Do japonês, kami = Deus, + kaze = vento. Um relato medieval diz que uma esquadra da Mongólia tentou invadir o Japão em 1281, mas um forte vento destruiu a esquadra invasora. Os japoneses batizarem de kamikase ou “vento divino”, os pilotos que aceitavam lançar-se junto com seus pequenos aviões repletos de bombas, sobre edifícios e navios inimigos. A mais célebre ação dos kamikases foi em Pearl Harbour, porto e Base Naval americana, em 07/12/1941. O episódio forçou a entrada dos EUA na guerra. A vingança americana foi “maligna”, em 06/08 e 09/08/1945 os americanos lançaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagazaki, matando cerca de 200 mil pessoas. Isso forçou o Japão a sair da guerra.

Confessores – Do latim, confessore = confessor. O termo foi elaborado no latim, por Tertuliano, com o sentido de confessor da fé. Ele foi calcado no termo grego, homologês = que confirma, confessa a fé. Dessa palavra grega temos: homologação, homologado, homologar...

Mártires – Do grego, martyrós = testemunha; o que confirma, atesta. Colmo muitos cristãos sobretudo nos três primeiro séculos, “testemunhando e confessando a fé”, foram mortos por isso. O termo “mártir” ou testemunho, em português e em outras línguas neolatinas, passou a significar = aquele que é sacrificado, executado por testemunhar explícita e às vezes, ousadamente a sua fé em Cristo.
Em síntese: Os kamikazes testemunharam o império japonês e conscientes, se sacrificavam pelo imperador. Os confessores, confessavam, isto é, davam testemunho público, mas não eram sacrificados. O confessor é pois um “mártir” = testemunho, que “morreu de velho”. O mártir é um confessor da fé que foi morto, pela ousadia de testemunhar publicamente a sua fé.